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No Dia da Conscieência Negra, nesta quinta-feira (20), a prefeitura do Rio lançou o projeto “Praça Onze Maravilha”, um conjunto de ações que vai transformar a região e o entorno do Sambódromo, no Centro. O projeto inclui a demolição do Viaduto 31 de Março, área verde, nova iluminação, biblioteca e a implantação de um mergulhão para facilitar o deslocamento da população. A cerimônia ocorreu na quadra da Escola de Samba Estácio de Sá.
A medida, segundo o município, reafirma a estratégia de transformar o espaço urbano a partir da valorização de territórios marcados pela memória afro-brasileira. A reconstrução amplia esse corredor cultural que reúne o Cais do Valongo, a Pedra do Sal, a Praça Onze e o Sambódromo, fortalecendo o eixo de patrimônio, cultural, mobilidade e desenvolvimento urbano.
Participaram do lançamento o prefeito Eduardo Paes, do vice Eduardo Cavaliere, além dos dos arquitetos Marcos Damont, responsável pelo Centro Cultural Rio-Áfricas; Duda Porto, que assina o Parque do Porto; e Francis Kéré, à frente da Biblioteca dos Saberes.
Na sequência, o evento teve a participação da bateria da agremiação, fazendo o trajeto que passou por dentro do Sambódromo. Ao chegar no Calouste Gulbenkian, os representantes encontraram com a concentração do tradicional Cortejo da Tia Ciata, onde aconteceu uma troca das baterias, que saiu do local, passando pela Avenida Presidente Vargas, em direção ao Monumento Zumbi dos Palmares.
A chegada do Cortejo da Tia Ciata ao Monumento Zumbi representa o encontro de dois personagens emblemáticos da cultura negra brasileira, separados pelo tempo e unidos pela região da Praça Onze, área simbólica da resistência cultural e étnica cariocas. Tia Ciata foi uma Iyá Kékeré (Mãe Pequena) conhecida também por seus quitutes e pelos encontros musicais e culturais promovidos em sua casa próxima à praça.
Antes mesmo da apresentação, Paes comemorou as mudanças através das redes sociais: “Ela vai renascer… vem aí a Praça XI Maravilha! O berço do samba e da alma cosmopolita do Rio de Janeiro será devolvido aos cariocas!”, disse.
Entenda as mudanças
O investimento estimado é de R$ 1,75 bilhão, com financiamento totalmente privado. O objetivo é recuperar uma área fundamental na história da cidade. A ação é inspirada no Porto Maravilha e faz parte do projeto de revitalização do Centro.
A transformação irá começar pela demolição do Viaduto 31 de Março, que vai permitir reconectar o Centro, o Estácio e o Catumbi. Haverá ainda a abertura de novas vias e a implantação de um mergulhão entre as ruas Frei Caneca e Salvador de Sá, com a criação de uma praça sobre a estrutura. A intervenção facilita os acessos entre os bairros e simplifica os deslocamentos na região.
No entorno da Marquês de Sapucaí, as calçadas serão mais largas e permeáveis, com melhorias na drenagem, nova iluminação e mais áreas verdes. O Sambódromo permanece preservado em sua estrutura, porém com acessos modernizados e suporte logístico mais eficiente, tanto no período do Carnaval quanto no dia a dia.
Áreas, hoje, subutilizadas serão ocupadas por novas unidades residenciais, com comércio e serviços no térreo. A expectativa é de 40 mil novas unidades residenciais e 100 mil novos moradores na região.
Outra novidade é a Biblioteca dos Saberes, projetada por Francis Kéré, vencedor do Prêmio Pritzker, que será um dos principais equipamentos culturais do Rio nas próximas décadas. Com mais de 40 mil metros quadrados, o edifício terá cobogós, pilotis e jardins suspensos que conferem leveza a uma arquitetura de escala monumental. O local terá o dobro da área do Museu do Amanhã.
Biblioteca dos Saberes
O espaço será dedicado à memória, ao conhecimento, às expressões populares e à biodiversidade, reunindo teatro, anfiteatro, cozinhas, salas de estudo e áreas expositivas. No centro do edifício, uma torre circular de quatro andares aberta à luz natural simboliza a universalidade do conhecimento. Inspirada no manto Tupinambá e nas árvores da vida, a torre reforça que cultura e saber são instrumentos de transformação e pertencimento.
A Biblioteca integrará acervos de iniciativas, como o Museu de Imagens do Povo, e adotará modelos de mediação cultural inspirados em experiências internacionais, como o V&A East Museum, em Londres. O local escolhido, o Terreirão do Samba, ao lado do monumento a Zumbi dos Palmares, está no coração da Pequena África, território onde nasceu o samba e a identidade cultural da cidade. Construir ali a Biblioteca dos Sabres reafirma que o patrimônio intelectual do Rio também nasce da cultura popular e das ruas.
A Biblioteca dos Saberes é o principal legado do Rio Capital Mundial do Livro e tem como objetivo fundamentar o processo de democratização do livro e da bibliodiversidade na cidade do Rio de Janeiro. Coordena a integração entre bibliotecas públicas e comunitárias, das melhores práticas em urbanismo e infraestrutura à composição dos acervos da cidade.
Ilha flutuante do Parque do Porto
O projeto se conecta ao processo de revitalização da Zona Portuária do Rio, iniciado em 2009, quando foi aprovada a lei criando o Porto Maravilha.
Com as novas mudanças, região vai ganhar a primeira ilha flutuante do Parque do Porto, projeto anunciado no ano passado e que começa a ganhar forma.
A primeira ilha flutuante será construída próximo ao Museu do Amanhã, com uma área total de mais de 16,8 mil metros quadrados, e terá praça gastronômica com restaurantes, quiosques e lojas na área central, uma arena de eventos, um jardim escultório, um parque lúdico, uma marina e um deck flutuante.
Modelo de viabilidade econômica
Para viabilizar as intervenções, a Prefeitura enviará, na próxima segunda-feira (24), um Projeto de Lei à Câmara de Vereadores, que propõe a criação da Área de Especial Interesse Urbanístico (AEIU) Praça Onze Maravilha. A nova área, de 2,5 milhões de metros quadrados, engloba ruas dos bairros Catumbi, Estácio, Cidade Nova e Praça XI, como Rua Frei Caneca, Rua dos Inválidos, Av. Paulo de Frontin, Praça da República, Praça da Cruz Vermelha e Av. Presidente Vargas.
A lei da AEIU traz regras urbanísticas específicas para a região, como gabarito e taxa de ocupação, para permitir a construção dos residenciais e a oferta de serviços para os novos moradores. Somente na Praça Onze Maravilha, serão construídas 37,5 mil unidades residenciais nos próximos 25 anos, com a expectativa de atrair mais de cem mil moradores.
Os investimentos privados serão realizados por meio de contratos de concessão e Parcerias Público-Privadas (PPPs), que misturam diferentes instrumentos, como potencial construtivo e pagamento de outorga onerosa. Além disso, o Município irá criar um fundo imobiliário com imóveis e terrenos públicos que poderão ser utilizados na operação.
A proposta será discutida em audiência pública ainda neste ano, e o projeto de lei será enviado à Câmara Municipal até dezembro.